17 junho 2006

Teimosia

enfim, aí vai um contículo. enjoy.

Teimosia

_ Paft!

_ Me desculpe.

_ Não.

_ Não?

_ Não, ué! Não desculpo, pronto.

_ Como assim?

_ Ora, você vem todo desembestado, me atropela, atira a pasta com os documentos vitais da empresa onde trabalho, muitos destes os quais já estão em vôo livre por esta avenida, me faz desfiar a meia, e acha que seu ridículo “me desculpe” vai consertar as coisas?

_ É, oras. Assim é a sociedade, minha filha. As pessoas se esbarram, se desculpam e seguem suas vidas.

_ Em primeiro lugar, nós não nos esbarramos, e sim você esbarrou em mim. E depois, não me venha com essa estória de “minha filha”. Apesar de não estar assim tão acabada, sei bem que a idade que nos separa não nos permitiria tal grau de parentesco.

_ Eu só tentava ser polido, me desculpe...

_ Pare! Não peça desculpas de novo! Eu sequer desculpei sua primeira trapalhada e você já me vem com novo pedido de desculpas!

_ Diabos, então o que você quer de mim? Devo me ajoelhar e implorar?

_ Bem, podia começar catando a papelada que espalhou, ou comprando-me um novo par de meias de náilon. Esta tornou-se impraticável!

_ Mas seus papéis estão voando, em meio a dúzias de carros! E quanto à sua meia, qual o valor? Eu pago! Deixe-me pegar a carteira que já te faço um cheque!

_ Quer saber? Você podia também procurar-me um novo emprego, pois serei comida viva e cuspida no meio da sarjeta por ter perdido esses papéis! Além disso não gostava daquele emprego, mesmo.

_ Então do que está reclamando? Se você não gostava do emprego, provocar sua demissão é um favor que te faço.

_ Alto lá! Não pense que é por que não gosto de meu emprego que prefiro não ter nenhum! Está vendo esta aliança aqui? Tenho três filhos e uma casa pra sustentar, pois não sou dessas que trabalham só pra mostrar que são emancipadas não! Trabalho porque preciso.

_ Seu marido não dá conta da casa sozinho não? Que frouxo.

_ Sabia que ia vir com o papo machista! Em que época acha que vivemos?

_ Século vinte e um, ao meio-dia. Hora de parar de discutir à toa.

_ Nada disso! Como eu fico, então?

_ Mas minha querida...

_ Espera aí, agora você quer ficar de intimidades pra cima de mim? Ainda há pouco queria enxotar-me da vista!

_ Deus do céu, como quer que te chame, então?

_ Pode me chamar de Fernanda.

_ Meu nome é Paulo. Fernanda, podemos almoçar e então resolvemos isso como pessoas civilizadas?

_ Hum...

_ Que tal ali naquele francês?

_ Topo.

...

_ E aí, gostou?

_ Claro que sim! Hmm, onde é que você aprendeu a fazer isso com os pés?

_ Filmes do Buttman.

_ Ué, achei que mulheres não curtiam esse tipo de coisa.

_ O quê? Querido, toda mulher curte isso até prova em contrário.

_ Hmm...

_ Você também me impressionou. Sabe, devíamos fazer isto mais vezes.

_ Vem cá, uma coisa que vem me intrigando. Por quê eu?

_ Como? Ah, isso? Não sei dizer bem. Achei fofo seu jeito de tentar ficar sério enquanto discutia comigo. Acredite, você é muito sexy quando ajeita esses óculos e emposta a voz pra falar.

_ Mas é assim? E o seu marido?

_ Marido?

_ É, ué.

_ Pensei que você tivesse percebido. Era mentira, eu não sou casada, nem tenho filhos ou nada do tipo. Inventei tudo só pra te cantar. Aliás, foi uma boa decisão.

_ Hmm... Peraí, mas e sua aliança?

_ Querido, isto é um anel de bijuteria com uma pedrinha, olhe. Tudo que fiz foi virá-la de forma que você não a visse. Depois fui ao banheiro e tirei.

_ E a sua empresa? Você será demitida amanhã, não? Afinal, os papéis...

_ Piadas e correntes de e-mail. A propósito, eu nem trabalho em empresa nenhuma. Sou escultora.

_ Céus. Tem algo mais que eu não saiba? Para que tanto?

_ Isto é tudo. Eu achei que a imagem da mulher resolvida, independente e profissional seria muito mais atraente que a escultora destrambelhada que não consegue manter um par de meias por mais de três dias. Sorria. Agora você já sabe tudo.

_ ...

_ Ora, não fique assim, querido. O que passou, passou. Agora me beija.

_ Você poderia ter contado tudo. Não tinha razão para mentir.

_ Ora, me desculpe. O importante é que...

_ Arrá!!!

Um comentário:

@joaomarcio disse...

Veríssimo as vezes perde prO Murilo.
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Oeeeeee!!! Isso não é um monte de trabalho! É uma pegadinha!!!!